sexta-feira, 20 de março de 2009

Empreendedorismo Social: Entenda como funciona o comércio justo

Fonte: Época Negócios


Mais conhecido como Fairtrade, esse movimento busca estimular a produção com uso de mão de obra bem paga, preços mínimos para os produtos e sistemas de cooperativas. Para garantir isso, criou um selo para certificar os produtores


Você pagaria um preço mais alto para comer uma laranja, se pudesse escolher entre uma mais barata? E se a fruta mais cara tivesse este valor por vir de um sistema que promove condições mais igualitárias de mercado para pequenos produtores?

O café é o principal produto de exportação do comércio justo no Brasil. Os consumidores do “comércio justo”, ou “comércio solidário”, comprariam a mais cara, independentemente do momento de crise. Mesmo numa situação de corte de custos, o costume deste cliente é de não fazer substituições por produtos mais baratos. “O consumidor pensa: só vou parar de comprar café de comércio justo se um dia eu parar de tomar café”, resume Fabíola Zerbini, secretária executiva do Faces do Brasil, um grupo criado em 2001 que reúne entidades para promover o modelo de comércio solidário no país. O selo oficial do “comércio justo” é o Fairtrade. Quando produtores querem receber esta certificação, eles se unem em cooperativas, se inscrevem no site da FLO (Fairtrade Labelling Organizations International) - entidade criadora do programa e responsável pela distribuição dos certificados - e tem que cumprir alguns critérios, como um preço mínimo para o produto, que cubra a produção e um bom pagamento para os produtores.



Cumprir estes critérios, claro, encarece a produção e, é por isso, que o valor final é mais caro.



Selo oficial Fairtrade


Nos países onde já há este sistema, estes cooperados recebem a visita de uma auditoria que confere se estes requisitos estão sendo cumpridos. Aqui, a companhia que realiza esta fiscalização é a BSD Brasil. O diretor da empresa, Beat Grüninger, diz que este tipo de comércio poderia sofrer com a crise, devido à escassez de crédito. Mas isso não tem acontecido, graças à fidelidade dos consumidores de produtos certificados pelo Fairtrade. “O comprador do café de comércio justo tem uma cultura diferente: ele não quer deixar o produtor na mão. Ele é comprometido”, diz Grüninger.


Apesar de mais difundido no mercado internacional, aqui no Brasil ainda é difícil encontrar produtos com o selo Fairtrade. Uma das poucas opções é a rede de cafeterias americana Starbucks. Se você já foi à alguma loja da marca, provavelmente pagou e experimentou café de comércio justo. A rede é a maior compradora deste tipo de café no mundo. Atualmente, cerca de 70% da bebida vendida nas unidades mundiais é certificada. “O objetivo é alcançar 80% do total até 2013”, diz Ricardo Carvalheira, presidente da Starbucks do Brasil. A empresa tem um programa para promover estas compras. Tudo é feito a partir de uma filial em Lausanne, na Suíça.


Comércio Justo no Brasil



Atualmente há no Brasil 25 cooperados com certificação, que exportam uma média de US$ 50 milhões por ano. O principal produto é o café, que vende anualmente cerca US$ 20 milhões. Ainda é muito pouco perto das exportações totais de café do país, que contabilizaram US$ 4,733 bilhões em 2008. Segundo Grüninger, o Wal-Mart é o maior importador de café certificado do Brasil, com aquisições de cerca de US$ 8 milhões por ano. É a única empresa que recebe o produto já industrializado e embalado. Para todas as outras, o café sai daqui em grão verde, que ainda deve ser moído. Ainda não há empresas brasileiras que compram o café de comércio justo para distribuí-lo por aqui. “Em abril deve haver uma reunião entre as cooperativas para tentar emplacar as vendas no mercado interno”, afirma Grüninger. Outra iniciativa tem sido liderada pelo instituto Faces do Brasil, que em parceria com as cooperativas, encaminhou um projeto ao Ministério do Trabalho e Emprego que propõe o reconhecimento e apoio do governo à venda dos certificados dentro Brasil. “O Brasil seria o primeiro a legitimar o comércio justo como política nacional”, diz Fabíola Zerbini, secretária executiva do Faces do Brasil. Mesmo sem aprovação deste plano, a ideia é começar, em maio, um sistema de certificação dentro do Brasil, para vendas internas.

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