Revista Época Negócios - Edição 11 - Janeiro de 2008
Muitos produtos inovadores são descartados por falta de habilidade social de seus criadores
Álvaro Oppermann
Quando o tema é inovação, convém sempre desconfiar dos arautos. Um bom sinal, quando se trata de Scott Berkun, de 34 anos, autor do elogiado The Myths of Innovation ("Os mitos da inovação"). "A inovação é o grande transtorno de nossos dias", diz ele. Scott fala de cátedra. Contratado pela Microsoft em 1994, recém-saído da faculdade, foi promovido um ano depois a gerente do projeto do navegador de internet da empresa, o então incipiente Explorer. Com talento criativo e pendor para a organização, em pouco tempo estava ensinando o que aprendeu na gerência do projeto para outras equipes de engenheiros da Microsoft. Berkun deixou a empresa de Redmond um pouco antes de completar uma década lá dentro, e hoje é professor de pensamento criativo na Universidade de Washington, além de escritor. Para ele, os livros são uma das mais amáveis invenções humanas.
Berkun disseca o tema, desmontando a visão idealizada que a maioria de nós faz da inovação. Diferentemente da lenda popular, a "epifania", o momento mágico de lampejo criativo associado aos grandes gênios, é algo praticamente inexistente. Quando William Shockley criou o transistor, ou Steve Wozniak (um dos fundadores da Apple em 1976) desenvolveu o computador pessoal, o processo foi árduo, envolto em incertezas e nuvens passageiras de pessimismo. É normal que seja assim, por um motivo: nós somos bem menos inovadores do que a nossa auto-imagem lisonjeira seria capaz de admitir. "As ondas de inovação são lentas. O telégrafo, o telefone, o PC e a internet levaram décadas para se desenvolver até se tornarem objetos do nossso dia-a-dia", afirma o autor.
O lampejo criativo é raro: inovações como o PC e o telefone levaram décadas até se tornarem produtos cotidianos.
Muitos produtos inovadores são descartados por falta de habilidade social de seus criadores
Álvaro Oppermann
Quando o tema é inovação, convém sempre desconfiar dos arautos. Um bom sinal, quando se trata de Scott Berkun, de 34 anos, autor do elogiado The Myths of Innovation ("Os mitos da inovação"). "A inovação é o grande transtorno de nossos dias", diz ele. Scott fala de cátedra. Contratado pela Microsoft em 1994, recém-saído da faculdade, foi promovido um ano depois a gerente do projeto do navegador de internet da empresa, o então incipiente Explorer. Com talento criativo e pendor para a organização, em pouco tempo estava ensinando o que aprendeu na gerência do projeto para outras equipes de engenheiros da Microsoft. Berkun deixou a empresa de Redmond um pouco antes de completar uma década lá dentro, e hoje é professor de pensamento criativo na Universidade de Washington, além de escritor. Para ele, os livros são uma das mais amáveis invenções humanas.
Berkun disseca o tema, desmontando a visão idealizada que a maioria de nós faz da inovação. Diferentemente da lenda popular, a "epifania", o momento mágico de lampejo criativo associado aos grandes gênios, é algo praticamente inexistente. Quando William Shockley criou o transistor, ou Steve Wozniak (um dos fundadores da Apple em 1976) desenvolveu o computador pessoal, o processo foi árduo, envolto em incertezas e nuvens passageiras de pessimismo. É normal que seja assim, por um motivo: nós somos bem menos inovadores do que a nossa auto-imagem lisonjeira seria capaz de admitir. "As ondas de inovação são lentas. O telégrafo, o telefone, o PC e a internet levaram décadas para se desenvolver até se tornarem objetos do nossso dia-a-dia", afirma o autor.
O lampejo criativo é raro: inovações como o PC e o telefone levaram décadas até se tornarem produtos cotidianos.
Num ambiente marcado pelo conservadorismo, o maior desafio do inventor (ou criador, ou inovador) é o de enfrentar a resistência do público. Aliás, encontrar apoio à nova idéia ou invenção - seja emocional, financeiro ou intelectual - é um desafio que depende de habilidades sociais que pouco têm a ver com o poderio intelectual ou criativo do inovador. Por esse motivo, diga-se, muitos produtos genuinamente inovadores jamais conheceram a luz do dia. A norma dita o contrário. "Eu acho que é bem raro que a 'melhor' idéia entre os experts se torne dominante. O HTML não é a 'melhor' linguagem de programação. Poucos cientistas crêem que o Windows seja o melhor sistema operacional, e poucos médicos consideram o Airborne o melhor remédio para a gripe. Na verdade, esse conceito de 'a melhor idéia' não existe", afirma Berkun.
Os principais entraves à inovação são de ordem política e psicológica. Numa empresa de software, por exemplo, os designers muitas vezes se mantêm alheios ao fluxo de trabalho da equipe de negócios ou dos engenheiros, e suas idéias acabam fadadas ao fracasso prematuro. "Metade do jogo da inovação é saber juntar recursos com as pessoas certas, para que uma idéia brilhante decole", diz o autor. No lado da psicologia da inovação, as equipes de técnicos e de desenhistas costumam ser surpreendentemente conservadoras e tímidas na apresentação de idéias. "Numa situação de confronto, elas não permitem que sua paixão transpareça. Ironicamente, tal paixão seria seu grande trunfo", continua o autor.
Por fim, o inovador, para trilhar o caminho que vai da prancheta até as prateleiras, deve possuir outras duas características decisivas: um realismo nu e cru e uma persistência feroz. De acordo com Berkun, os consumidores estão pouco se importando se um produto é inovador ou não. A pergunta que todos os inovadores devem se fazer é se o novo produto atende ou não às necessidades reais desse consumidor. Ao longo da história, vale lembrar, o foco na solução de um problema específico do público foi o elo comum a todos os grandes inovadores.
Berkun também recorda que os grandes empreendedores - seja na 3M ou na Ford - venceram pela persistência, e não na primeira tentativa de acerto. Hoje em dia, um caso exemplar seria o do website Flickr, que permite a hospedagem e a troca de arquivos de imagem - um dos grandes sucessos da web 2.0. Originariamente, o Flickr foi concebido como jogo online. No início, atendia pelo nome The Game Neverending ("O jogo sem fim"). Quando a equipe criadora defrontou-se com dificuldades de financiamento, rapidamente mudou de prioridade, reconhecendo o valor da aplicação desenvolvida para troca de fotografias. "Essa é a pergunta que todo inovador deve se fazer: será que o meu invento não teria outras utilidades?", afirma Berkun. Afinal, o caminho da inovação está repleto de surpresas...
PS: Abaixo encaminho uma apresentação muito interessante de Scott Berkun sobre seu livro "os Mitos da Inovação"
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