domingo, 1 de maio de 2011

Teremos um apagão de empreendedores?

Muito tenho escutado sobre os apagões no Brasil. Pessoalmente percebi o apagão dos empregos na década de 80, o da energia elétrica em 2001 e os problemas da gestão do tráfego aéreo em 2006. Já ouvi falar de outros apagões como o da celulose, da capacidade de processamento de cana oda Defesa Civil em muitos municípios e o da mobilidade na cidade de São Paulo. No entanto o que me realmente me preocupa é o apagão de material humano de qualidade. Estou começando a achar que o nível de gente profissionalmente preparada, ética e empreendedora no Brasil está abaixo da marca. Para nossa sorte, esse problema não é exclusivamente nosso, por outro lado está difícil de ver inovações e ações concretas por parte dos gestores públicos das diferentes esferas.

Para começar me questiono: em um mundo globalizado, é facilmente perceptível que lugares que estão indo bem tendem a ser cosmopolitas, são tolerantes aos "forasteiros", são hospitaleiros e naturalmente se vê gente de tudo quanto é lugar. A vinda dessas por outro lado se dá por vários motivos, em especial, oportunidades e mais oportunidades, um esforço em ampliar as facilidades para explorá-las e um ambiente, que para o bem comum, tende a gerir de forma efetiva riscos de toda natureza, minimizando-os. As pessoas e o capital ficam naquele bat-local por nada mais, nada menos, que um período que valha a pena correr o risco da inércia.

Existe gente que percebendo esses fenômenos tentam "desembrulhá-los" para formatos mais facilmente e universalmente compreensíveis. Como exemplos poderia citar diversos estudos mas um que me chama atenção há alguns anos é o Global Competitiveness Report (GCR). A edição 2010-2011 pode ser consultada aqui.



É importante que não levemos esse tipo de estudo a "ferro-e-fogo"... Os gringos às vezes tem uma visão "de frente para o mar e de costas para o Brasil" própria de quem se limita à Brasília e às grandes capitais (convenhamos que alguns compatriotas compartilham desse tipo de falha..). Mas por outro lado, "a verdade que sai da boca do rabugento não deixa de ser verdade...", daí a necessidade de aproveitar as alfinetadas e fazer uma boa auto-crítica. Recentemente a Fundação Dom Cabral, uma das colaboradoras do estudo, aproveitou e fepublicou um documento contendo uma análise da performance brasileira GCR. Vale destacar que o país perdeu duas posições em relação ao período 2009-2010 (de 56 p/ 58). Respeitando as devidas particularidades quando comparados aos colegas do BRICs ficamos bem atrás da China (27, mas Hong Kong está em 11), Índia (51) África do Sul (54), ficando a frente apenas da Russia (63). Entre os demais países latino-americanos continuamos atrás do Chile (30), Porto Rico (41), Panamá (53) e Costa Rica (56) mas a frente do Uruguai (64), México (66) Colombia (68), Argentina (87), Bolívia (108), Paraguai (120) e Venezuela (122). Entre os países lusófonos ficamos atrás de Portugal (46) mas a frente de Cabo Verde (117), Moçambique (131), Timor Leste (133) e Angola (138).



Levando em conta a existência de diversos "Brasis", me chamou a atenção da matéria das 45 cidades mais inovadoras do Brasil, publicada na semana passada no site da Pequenas Empresas & Grandes Negócios. Piracicaba e outras cidades paulistas estão lá entre as 45 cidades mais inovadoras identificadas no estudo que o Instituto Inovação fez com base em dados do IBGE, MCT e INPI.






As cidades citadas não me causaram grande surpresa. Em determinados eventos direcionados ao público que lida com empreendedorismo, inovação e propriedade intelectual, sempre encontramos seus embaixadores. Realmente muitos exemplos de boas práticas poderiam (e oportunamente serão) listados em posts futuros. Mas apesar de já ter tido a oportunidade de conhecer muitos exemplos de boas práticas em cidades do interior de São Paulo, cidades como Santa Rita do Sapucaí (37.784 hab) , Itajubá (90.679 hab), Joinville (515.250 hab), Curitiba (1.746.896 hab), Florianópolis (421.203 hab) merecem mais atenção dos gestores paulistas. Estão conseguindo interessantes resultados com poucos recursos. O segredo? Antevisão, gente competente e motivada e sobretudo, planejamento.




Ao voltar a pensar em Brasil e seus apagões sempre tento identificar como outros países estão lidando com os desafios de um mundo que ao globalizar-se, gerou uma série de novos desafios tanto para o cidadão comum como para os gestores do mais alto nível.



Presidente Barack Obama em 31 de janeiro deste ano lançou a iniciativa Startup America. Tradicionalmente tantos e tanto empresários compraram a promessa do sonho americano de que se você tiver uma boa idéia, confirmar que se trata de fato de uma oportunidade e estiver disposto a trabalhar duro, você terá sucesso neste país". Os EUA entendem que ao facilitar o cumprimento desta promessa, os empresários também podem contribuir enquanto empreendedores, um papel fundamental na expansão da economia e geração de empregos.

Nesse sentido o Startup América é uma iniciativa da Casa Branca para celebrar, inspirar e acelerar o empreendedorismo em todo o país.


Startups são motores da geração de empregos. Dessa forma a idéia é apoiar os empreendedores de todas as áreas e partes do país. Áreas como energia limpa, medicina, tecnologia da informação e outros domínios inovadores que irão construir as novas indústrias do século 21, e sanar alguns dos mais difíceis desafios globais.



O presidente Obama advertiu a importância de tanto o governo federal quanto o setor privado contribuirem para a prevalência e o sucesso dos empreendedores naquele país.

Primeiro, a administração Obama está lançando um conjunto de iniciativas políticas empreendedor com foco em cinco áreas:
1. Simplificação do acesso ao capital
2. Mentoring
3. Redução das barreiras regulatórias
4. Aceleração da Inovação
5. Desencadeamento de novas oportunidades de Mercado

Nesse esforço líderes do setor privado lançaram o Startup America Partnership, uma aliança independente dos empresários, empresas, universidades, fundações e outros líderes, cujo propósito é adicionar "combustível" às startups inovadoras, de áreas de elevado crescimento dos EUA.

Várias ações estão articuladas. Desde facilitar a obtenção de vistos, como o já comentado Startup Visa Act de 2011. O Start Up Visa foi inspirado em propostas semelhantes que surgiram no Reino Unido e Chile. O Canadá está trabalhando em proposta semelhante.




Nesse sentido ficam algumas reflexões:




  1. E o Brasil?



  2. Será que nosso estoque de empreendedores e profissionais qualificados está ajustado às proclamadas demandas que são anunciadas para os próximos anos?



  3. O quanto que instituições de pesquisas brasileiras foram beneficiadas por receberem pesquisadores estrangeiros nas décadas de 30-50?



  4. Quantas etapas de projetos de C&T&I foram abreviadas pela experiência de profissionais estrangeiros?



  5. O ritmo do processo de internacionalização do ensino e pesquisa das universidades brasileiras está compatível com as suas primas de chinesas e indianas?



  6. Em que medida a qualidade do ensino fundamental e médio públicos comprometerá o mar de oportunidades que temos pela frente?



  7. Quais cidades brasileiras estão se preparando para apresentar resultados menos vexatórios em testes como o PISA?



  8. Será que dá para conciliar melhoria no ensino público (ou seja, o seu vizinho terá uma oportunidade tão boa quanto o seu filho) e atração/retenção de talentos (mesmo que isso signifique ser empregado de um "forasteiro" sem se sentir constrangido social/politicamente?

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